Como um dos maiores fatores de risco para o câncer é a idade, a campanha de vacinação para a Covid-19 no Brasil beneficiou muitos pacientes com essa doença desde o começo. E agora que certas comorbidades estão entrando no calendário de imunização, mais uma leva de pacientes oncológicos terá acesso às doses contra o coronavírus. Diante disso, as dúvidas sobre as vantagens e os riscos das vacinas entre indivíduos que tiveram ou têm tumores se multiplicaram. Confira a resposta para sete perguntas comuns sobre o assunto: 1. Quem tem câncer faz parte do grupo prioritário da campanha de vacinação?O câncer em si não foi considerado uma comorbidade pelo Ministério da Saúde, quando foram definidos os grupos prioritários para receber a vacina contra o coronavírus. Desde então, entidades médicas e de pacientes criticaram a decisão, já que a presença de um tumor foi associada a complicações da Covid-19. Um estudo realizado pelo Grupo Oncoclínicas, publicado no periódico científico da Sociedade Americana de Oncologia Clínica mostra que o risco de morte decorrente do Sars-CoV-2 nessa turma é de 16,7%, um número acima da taxa global (2,4%). De qualquer jeito, certos pacientes entraram na lista de prioridades por serem considerados imunossuprimidos, uma comorbidade que foi contemplada pelo governo. São eles:
Esse pessoal pode consultar a agenda de imunização da sua cidade para portadores de comorbidades. E, como dissemos antes, muitos sujeitos com um tumor tiveram acesso às doses por causa da idade. Alguns postos vinham pedindo um atestado a eles, mas abordaremos isso em detalhes na quinta pergunta. 2. Ter câncer é uma contraindicação para a vacina?Não. De acordo com a mastologista Maira Caleffi, presidente voluntária da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), todos os imunizantes disponíveis contra o coronavírus até o momento não apresentam riscos e são indicados para quem está com essa doença. “Só é importante destacar que cada paciente possui características únicas e respostas diferentes ao tratamento. Então é sempre bom conversar com o médico responsável a respeito”, complementa. O oncologista Bruno Ferrari, presidente do Conselho de Administração do Oncoclínicas, concorda que a orientação profissional é sempre uma boa pedida, porém destaca que isso não pode servir de desculpa para dispensar as picadas. “Se houver a possibilidade, fale com o médico. Mas de modo geral dizemos: vá se vacinar”, tranquiliza. 3. Quem está em tratamento pode tomar a vacina?A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) recomenda aplicar o imunizante antes de iniciar qualquer terapia, seja quimio, radio ou imunoterapia. Se isso não for possível, vale buscar sua dose mesmo durante o tratamento. “O benefício se sobrepõe a um eventual pequeno risco”, pontua Ferrari.
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4. Pessoas transplantadas devem se vacinar?Para os indivíduos que precisam de um transplante de medula óssea ou de algum órgão, há uma sugestão de evitar a vacina apenas imediatamente antes ou depois do procedimento. Embora seja uma especulação, é possível que as doses sejam menos eficazes se recebidas nessa fase. “Durante o período de preparação e após a recuperação, dá para a vacinação acontecer normalmente”, afirma Ferrari.
5. É preciso levar uma prescrição autorizando a vacinação?O Ministério da Saúde exige que portadores de comorbidades apresentem documentos de um especialista que comprovem a presença da doença. E há outra uma norma dizendo que pacientes com câncer necessitam do aval por escrito de um médico, mesmo que já tenham a idade mínima para tomar as injeções contra a Covid-19. Verdade que, nos pacientes que iam aos postos receber suas doses por causa da faixa etária, nem sempre o agente de saúde perguntava se eles haviam sido diagnosticados com um tumor em algum momento da vida. Mas agora que o calendário da campanha de vacinação do coronavírus está chegando aos grupos com comorbidades, essa exigência deve se tornar mais comum. Ou seja, não importa se o indivíduo com câncer vá para o postinho por causa da idade ou por se encaixar naquele grupo dos imunossuprimidos que citamos antes, ele provavelmente precisará da comprovação do diagnóstico e de uma prescrição médica. A Femama se posicionou contra a exigência dessa autorização médica, já que não é o momento mais fácil para pessoas serem atendidas por seus especialistas na rede pública. A fila de espera para uma consulta, que normalmente já é grande, aumentou devido à sobrecarga do sistema de saúde. 6. Quem teve câncer de mama pode tomar a injeção em qualquer um dos braços?Ferrari explica que mulheres que realizaram o esvaziamento axilar — uma cirurgia de retirada dos gânglios da axila para tratar tumores da mama — devem, dentro do possível, evitar manipulações no braço afetado. Isso se resolve dando a picada no outro braço. “Todas que fazem a cirurgia já são orientadas a isso. Caso o esvaziamento tenha sido feito dos dois lados, a vacinação deve ocorrer mesmo assim, em um dos braços”, garante o especialista. 7. As reações adversas são piores nos portadores de câncer?Como não foram incluídos pacientes com câncer nos estudos que avaliaram os imunizantes, não havia como saber se os efeitos colaterais seriam mais intensos nessa população. Conforme a vacinação foi se espalhando pelo mundo — inclusive entre os pacientes oncológicos — os médicos foram ganhando confiança. “Até o momento, não existe evidência de reações mais intensas neles”, informa Maira. Os benefícios da vacina são certamente maiores que quaisquer riscos mínimos de tomá-la. Se você estiver passando por um momento delicado do tratamento, converse com seu especialista.
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Não há nada mais democrático do que uma caminhada. Um exercício que pode ser feito em qualquer espaço aberto, durante o dia ou à noite e por pessoas de qualquer idade. E o tempo também não é desculpa. Pesquisas apontam que 30 minutos de caminhada de intensidade leve a moderada são suficientes para ativar uma série de músculos e sensações, o que impacta positivamente no organismo. Com academias fechadas (ou com capacidade limitada para receber alunos) por causa da Covid-19, a caminhada virou a queridinha de ainda mais gente. Quem já praticava passou a incorporá-la com mais frequência. E quem não fazia a colocou na rotina, nem que com o objetivo de colocar o rosto fora de casa. Vale frisar que práticas como caminhar, correr, nadar e pedalar aumentam a imunidade especificamente do sistema respiratório, justamente o mais atacado pelos coronavírus. São atividades que também elevam bastante o gasto energético diário, melhoram a oxigenação cerebral e ajudam no controle da hipertensão, do colesterol e do nível de glicose no sangue. Como se não bastasse, os benefícios da caminhada se estendem para a mente, como apontam centenas de estudos científicos. Um deles, publicado por pesquisadores canadenses após ouvirem mais de 8 mil entrevistados com idades entre 20 e 79 anos, aponta que pessoas que davam menos de 5 mil passos por dia apresentam uma saúde mental prejudicada. Já aquelas que completam entre 5 e 16 mil passos diários alegam redução do estresse e aumento da percepção de bem-estar, alegria e felicidade.
No entanto, para uma caminhada eficaz e segura, é preciso seguir alguns preceitos:
O que você não pode é ficar parado. * Fabio Ceschini é profissional de educação física e especialista em fisiologia do exercício, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e doutor em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu. É também fundador da plataforma de ensino Viajando pela Fisiologia, que capacita profissionais de saúde e educação física na prescrição de treinos, sobretudo para pacientes com doenças crônicas.
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Causada pelo vírus Sars-CoV-2, a Covid-19 se notabilizou por estar por trás da síndrome da angústia respiratória do adulto, um quadro grave que demanda cuidados médicos intensivos. Embora o nome do problema sugira apenas acometimento pulmonar, o organismo inteiro pode ser afetado pela doença, inclusive o trato gastrointestinal. Aos olhos da ciência, o sistema digestivo deixou de ser visto apenas como um mero conjunto de órgãos que processam alimentos. Cada vez mais ele é compreendido como um sistema essencial ao equilíbrio do corpo e ao controle e tratamento de diversas doenças, inclusive a Covid-19. A infecção pelo coronavírus, como muitas outras, acaba interferindo no equilíbrio da nossa microbiota — a comunidade de vírus, bactérias e fungos que habitam nosso organismo, especialmente o tubo digestivo. A consequência disso é um estado que chamamos de disbiose. Ele modifica o ambiente do nosso intestino, tornando-o mais poroso e facilitando a passagem de substâncias produzidas pelos agentes infecciosos para as camadas mais profundas da parede intestinal, o que atrai nossas células de defesa e promove uma inflamação na região. Nosso sistema imune libera, nesse contexto, substâncias conhecidas como citocinas, que podem ganhar a circulação e interferir no organismo como um todo. Esse estado inflamatório também chega a ser percebido pelas terminações nervosas, que levam a informação ao nosso cérebro e, junto à ação das próprias citocinas, podem alterar seu funcionamento. Isso ocorre particularmente em uma região conhecida como hipotálamo, que se comunica com a hipófise, responsável por coordenar o trabalho de outras glândulas pelo corpo (tireoide, adrenal, ovários, testículos etc). Ou seja, o impacto no aparelho digestivo pode refletir na produção de vários hormônios importantes, interferindo no metabolismo como um todo. Essa conexão pode esclarecer algumas das manifestações da Covid-19, sobretudo o estado de inflamação sistêmica desencadeado pela virose.
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Sabemos que o Sars-CoV-2 entra no organismo pelo sistema respiratório, ativando uma inflamação inicialmente nas vias aéreas. A questão é que, recentemente, a ciência percebeu que existe uma via de comunicação dos pulmões com o intestino — ela opera por meio de nervos e de células imunológicas como monócitos e linfócitos, que podem, literalmente, carregar o vírus da Covid-19 pelo corpo, inclusive até o intestino. Essa linha de comunicação representa o que chamamos agora de eixo intestino-pulmonar. Ele permite que o vírus possa evitar a passagem pelo estômago e o duodeno, onde encontramos ácido clorídrico e outras substâncias capazes de aniquilar agentes infecciosos e comprometer sua jornada pelo organismo. Essa via também nos ajuda a entender o aumento da translocação de bactérias em infecções secundárias à Covid-19. Uma maneira de nos proteger dessas repercussões é reequilibrar a microbiota e tratar a disbiose com probióticos, suplementos com bactérias bem-vindas à saúde. Isso poderia interferir nesses eixos e modular a evolução de uma infecção, eventualmente prevenindo a doença ou suas complicações. Atualmente, existem mais de 27 estudos clínicos envolvendo quase 10 mil pessoas em andamento no mundo que têm como objetivo verificar como os probióticos podem auxiliar na prevenção e atuar como coadjuvantes no tratamento da Covid-19. A suplementação de vitaminas, minerais e probióticos aparece na maioria das pesquisas como terapia complementar, no sentido de otimizar a resposta imunológica e contribuir com o restabelecimento do paciente. Estamos na expectativa pelos resultados, uma vez que se abre, com os probióticos, a possibilidade de termos mais uma arma para ajudar a deter a doença que infectou mais de 150 milhões de pessoas pelo planeta. * Ricardo Barbuti é médico assistente do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
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A preocupação brasileira com a evolução do número de mortes pela Covid-19 e, mais recentemente, com a percentagem da população que recebeu a vacina não vai levar ao controle da epidemia no curto prazo . O Brasil deveria seguir o caminho dos países que tiveram êxito no bloqueio do surto, como a China e a Coréia do Sul, cuja estratégia foi centrada na localização — e eliminação — dos focos de infecção, através de testes RT-qPCR em áreas escolhidas criteriosamente. A difusão do coronavirus está descontrolada no Brasil porque não há uma preocupação das autoridades em combater o vírus nas áreas onde ele predomina. O exemplo típico é o que acontece em Sapopemba. O distrito de São Paulo registra o maior índice de casos da capital paulista: 18 827, com 667 mortes (mais do que as registradas em 626 cidades do Estado). Esses dados, fartamente divulgados pela mídia, indicam que o maior foco de infecção da cidade é essa região com 286 mil habitantes. Não há dúvida de que centenas de moradores de Sapopemba estão infectados e, a cada manhã, se deslocam para outras áreas da cidade, espalhando o vírus. Tanto a Coreia do Sul como a China e outros países asiáticos enfrentaram problema idêntico. A diferença é que, quando da simples suspeita de que um bairro teria alto índice de contaminados, foi feita a testagem em massa da população local, identificando precisamente onde era maior a incidência do vírus — seja num mercado a céu aberto, num conjunto habitacional, numa escola ou nos passageiros de determinada linha de ônibus. Identificada a predominância do vírus, o próximo passo foi vacinar toda a população da área, não priorizando faixas etárias, pessoas com comorbidades ou apenas profissionais de saúde. Feita a imunização, em duas semanas cada foco estava controlado e o vírus deixou de se disseminar. E, é claro, essas regiões impunham medidas de lockdown, restringindo a movimentação dos cidadãos e o monitoramento dos infectados. Voltando ao caso de São Paulo, do ponto de vista de prevenção de casos e mortes, seria mais eficaz vacinar toda a população de Sapopemba do que distribuir o mesmo equivalente de doses para os grupos prioritários da cidade inteira. O mesmo poderia ter sido feito com maior eficácia no caso de Araraquara, também no Estado de São Paulo, que registrou um surto importante, medido como é usual pelo número de internados e mortos.
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A resposta das autoridades, e eficiente por sinal, foi o lockdown, que permitiu uma rápida melhoria da situação. Elas não se preocuparam, porém, em identificar os focos de onde vinha o vírus e muito menos na vacinação da população da região. Para identificar os focos, o caminho seria a testagem em massa com o RT-qPCR, que está disponível em grande quantidade no Brasil e cuja aplicação seria rápida, permitindo a montagem de um mapa dos pontos críticos nos quais o vírus precisa ser combatido.
A identificação rápida de focos da Covid-19 também permite a construção de hospitais de campanha, que precisam ser móveis e se ajustar às necessidades locais da pandemia. No ano passado, concentraram muitos desses centros na capital paulista. Campinas, por exemplo, teve que mandar doentes para São Paulo, já que a cidade no interior do estado estava com hospitais lotados. O programa de aplicação de testes rápidos e o isolamento dos focos de contágio foi feito em determinada área do Brasil, entre tribos indígenas, mas passou despercebido das autoridades responsáveis. A empresa que dirijo, a Seegene do Brasil, participou dessa experiência de sucesso muito antes da primeira vacina estar disponível no país. O programa foi aplicado pelo Instituto Raoni em 48 aldeias de 11 etnias de Mato Grosso, onde no ano passado a pandemia matou quatro índios. Os responsáveis nos aldeamentos nos contataram para pedir a doação de 1 900 testes. Em menos de uma semana, esses exames permitiram identificar 787 índios que estavam positivos. Na inexistência de vacina ou de hospital na mata, foram feitos isolamentos por onde o vírus estava circulando, o que bloqueou a dispersão e manteve a saúde da população local durante vários meses, até que as vacinas chegassem. Deu certo. No Brasil como um todo, entretanto, as pessoas só insistem na necessidade de conseguirmos mais vacinas rapidamente. Isso está correto, mas não basta. E não basta porque vamos demorar muitos meses, provavelmente mais de um ano, para imunizar toda a população. Enquanto isso, pouco é feito para impedir a circulação do vírus no curto prazo. O uso de máscara, o distanciamento físico e a lavagem constante das mãos também ajudam muito. Mas repito: isso não basta. É necessário usar os testes para identificar os focos de onde o vírus se espalha e vacinar em massa os habitantes desses locais. Na Ásia deu certo. Está na hora do Brasil fazer o mesmo. *Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene do Brasil
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A farmacêutica Takeda solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro de uma nova vacina contra a dengue. A TAK-003 é feita com uma versão modificada do vírus vivo atenuado e protege contra os quatro sorotipos da doença. No estudo de fase 3, a vacina demonstrou eficácia geral de 80,2% na prevenção de casos confirmados de dengue. A proteção foi ainda maior contra hospitalizações (90%) e dengue hemorrágica, a versão mais grave da doença (85%). O trabalho segue em andamento, acompanhando cerca de 20 mil crianças e adolescentes recrutados entre 2016 e 2017. Os achados mais recentes, publicados no periódico The Lancet, são dos primeiros 18 meses pós-vacinação. A investigação continua para conferir outros dados, como a duração da imunidade e segurança em longo prazo. No registro submetido à avaliação da Anvisa, a fabricante indica que a fórmula poderá ser inoculada em pessoas entre 4 e 60 anos que tiveram ou não dengue. Esse é um detalhe importante. Vamos a ele. A vacina que temos hoje tem uso limitadoExiste uma vacina contra a dengue aprovada no Brasil, a Dengvaxia, da Sanofi-Pasteur. Mas ela só está disponível na rede particular, e para quem já teve a doença. Ou seja, é preciso fazer um teste sorológico para verificar a presença de anticorpos (já quem nem sempre a infecção provoca sintomas) ou ter recebido a confirmação no passado. Isso porque, em indivíduos sem contato prévio com o vírus, o imunizante pode provocar um quadro chamado de antibody-dependent-enhancement (ADE), algo como “amplificação da doença causada por anticorpos”, em tradução livre. “Nessa situação, há o risco de desenvolver quadros mais graves de dengue ao ser infectado depois de receber a dose”, conta o pediatra José Geraldo Leite Ribeiro, vice-presidente da Regional de Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm-MG). Por causa dessa restrição, o imunizante da Sanofi-Pasteur acabou não deslanchando e gerando uma proteção coletiva diante da dengue. Já a Takeda afirma que a TAK-003 não desperta tal mecanismo. “Os 20 mil voluntários da fase 3 foram testados antes de começar a pesquisa e, entre eles, 27,6% eram soronegativos (não tinham anticorpos contra o vírus)”, comenta Abner Lobão, diretor executivo de Medical Affairs da Takeda no Brasil.
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Com três anos de acompanhamento, os pesquisadores não detectaram nenhuma ocorrência do tipo. No caso da Dengvaxia, foram cerca de cinco anos até flagrar a relação. “O desafio da Anvisa será interpretar se o período desse estudo é o suficiente para demonstrar que não há o risco”, comenta Leite. A Takeda informou à Anvisa que a vacina pode ser tomada por todos. “Estamos tranquilos em afirmar que ela não causa o problema”, completa Lobão.
Como ela funcionaA TAK-003 é uma vacina quimérica de vírus vivo atenuado. Traduzindo: é feita com pedacinhos de vírus modificados para ficarem mais fraquinhos, incapazes de provocar sintomas importantes. Diferentemente da Dengvaxia, que usa uma versão do agente por trás da febre amarela, o produto tem como base o sorotipo 2 do próprio causador da dengue. “Por meio da engenharia genética, ele passa a conter em sua superfície partes dos outros sorotipos, 1, 3 e 4”, conta Lobão. A vacina deve ser tomada em duas doses, com três meses de intervalo, e ainda não se sabe se precisará ser reaplicada de tempos em tempos. “Os dados atuais indicam que a imunidade se mantém, mas precisamos acompanhar os voluntários por mais tempo”, completa o porta-voz da fabricante. Quando deve chegarA Anvisa tem 60 dias para decidir sobre o registro. O plano é que, uma vez aprovada, ela seja negociada com o governo e incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Se realmente a vacina da Takeda puder ser aplicada na população como um todo, independentemente de uma infecção prévia por dengue, o potencial benefício para a sociedade é grande. Apesar de pouco falada no momento, a dengue segue fazendo estragos durante a pandemia de Covid-19. “Os casos dessa infecção na América Latina dobram a cada dez anos, o que mostra que nossas medidas de controle de vetores não estão funcionando”, pontua o pediatra da SBIm. Em 2020, foram registrados quase um milhão de casos prováveis de dengue no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, dado que pode estar subestimado pela onipresença do coronavírus na rede de atendimento. Existe ainda uma vacina sendo produzida pelo Instituto Butantan. Ela é de dose única, também tem ação contra os quatro sorotipos e foi testada em 17 mil voluntários na fase 3, mas os resultados da fase final ainda não foram divulgados.
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A prática do jejum é antiga e associada com várias religiões. E tudo bem! O problema é quando os valores sagrados que a revestem ou outras questões ideológicas se confundem com as evidências científicas, gerando a impressão de que períodos prolongados sem a ingestão de alimentos causam uma “limpeza” no corpo e promovem o emagrecimento sustentável. Isso não faz muito sentido, mas vamos começar entendendo os argumentos de quem defende o tal jejum intermitente. Alguns alegam que ele melhora a glicemia de pessoas com diabetes. A queda aguda da glicose no sangue é mesmo esperada justamente pela falta de alimentos que ofertam essa substância. Mas se o indivíduo compensar comendo mais depois, a glicemia pode ter picos nocivos. Fora que o período de jejum favorece a hipoglicemia, que é bastante perigosa. No fim, a glicemia elevada é só a mensageira que avisa que algo está errado. Baixá-la temporariamente é que nem fugir do carteiro para não pagar a conta de luz. Outro ponto valorizado por quem defende o jejum intermitente é a diminuição da pressão arterial. E sim, isso também acontecerá agudamente, porque 30% da água que necessitamos vem da ingestão alimentar. Sem esse volume de líquido no corpo, a circulação sanguínea fica menos congestionada, o que faz a pressão cair. Mas, de novo, essa taxa volta a subir quando a pessoa se alimenta. E por último, há o papo de que Yoshinori Ohsumi, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2016, defende o jejum intermitente. Isso não é verdade: ele estudou mecanismos de restrição calórica em leveduras, que são uma espécie de fungo. Acredite: você é muito mais do que uma levedura. Até por essa ligação com práticas religiosas, o jejum gera uma sensação de “libertação” da gordura corporal, muitas vezes vista como algo “não digno” na nossa cultura. Parece fácil adotar um método de perda de peso em que você pode comer à vontade — basta eleger períodos em que nada vai para a boca (os protocolos variam muito).
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No dia a dia, o resultado não é bem assim. O jejum representa para o organismo uma situação de risco e estresse severo. Teremos hormônios, como o cortisol, sendo liberados para nos preparar para um período de escassez. Como consequência, perderemos músculos para diminuir nosso gasto calórico diário. O nosso corpo funciona como uma empresa: diante da previsão de vacas magras, ele se antecipa e corta as “despesas” para preservar a sobrevivência. Mas perder os músculos é sinônimo de menor qualidade de vida e de maior dificuldade para emagrecer no longo prazo. Os sinais de que algo está fora do controle já aparecem nos primeiros momentos do jejum. A dor de cabeça sinaliza que o cérebro está se ressentindo da falta de seu nutriente predileto, a glicose, oriunda principalmente dos carboidratos. A sensação de tontura ao se levantar da cama ou de uma cadeira também é comum. As pessoas que nos cercam também podem identificar alterações promovidas pelo jejum intermitente — embora nem sempre relacionem as duas coisas. Uma é a exalação de um odor forte pelo corpo, decorrente da cetose. Ela é consequência da oxidação incompleta da gordura (isso mesmo, incompleta). Outro sinal percebido pelos mais próximos será a alteração de humor. Alteração negativa, é claro! Ficamos rabugentos, intolerantes e passíveis de dar respostas atravessadas sem a menor necessidade. Mas, entre essas e outras consequências, uma das que mais me preocupa é a de como o jejum intermitente transforma a nossa relação com a comida em uma luta. Se precisamos nos distanciar dos alimentos para emagrecermos e sermos “dignos”, eles não são nossos “amigos”! Esse pensamento inclusive nos aproxima dos distúrbios alimentares. Práticas como a do jejum intermitente não se sustentam, e podem distanciar você do seu objetivo. Lembre-se de que o alimento não é o vilão da história: nós precisamos de nutrientes diariamente. Supostos atalhos na busca por uma alimentação balanceada tendem, no fim das contas, a atrasar ou sabotar nossos projetos de emagrecimento.
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O que são os triglicéridesSão a principal molécula de gordura que circula pelo corpo. Elas viajam pelo sangue, e também são responsáveis pela nossa reserva de energia. Mas, em excesso, estão associadas a diferentes problemas cardiovasculares e à pancreatite. Ajustes na alimentação e, eventualmente, o uso de remédios entram no tratamento das altas taxas de triglicérides. Não há sintomas claros do problema. A maior parte dos triglicérides é produzida pelo próprio fígado. O restante vem através de alimentos ricos em carboidratos e gordura. “O valor considerado normal na circulação é abaixo de 175 mg/dl, sem jejum”, informa a nutricionista Regina Pereira, do departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Quais as causas de triglicérides altoAlém da genética, os principais fatores por trás dos níveis elevados são uma dieta rica em carboidratos e gordura e a ingestão de bebida alcoólica. Ao serem engolidos, esses itens promovem a produção da substância pelo organismo. Daí porque pessoas com alterações nesses índices devem ficar de olho no consumo de pães, massas, doces… “Certos medicamentos, como corticoides, isotretinoína [o famoso Roacutan] e alguns anticoncepcionais e antirretrovirais também aumentam os triglicérides”, acrescenta Regina. No mais, há doenças que promovem o aumento dos triglicérides. O hipotireoidismo, por exemplo, diminui o ritmo de quebra dessas moléculas, o que faz elas se acumularem na corrente sanguínea. A insuficiência renal também contribui para altos níveis da substância. A obesidade está associada a triglicérides elevados. No entanto, pessoas magras também sofrem com o problema.
Quais as complicações das altas taxas de triglicérides?Sem cuidados adequados, esse problema afeta o sistema cardiovascular como um todo. O excesso de triglicérides contribui para o entupimento de vasos sanguíneos, o que pode culminar em infarto e acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Há ainda uma relação com o aumento da pressão arterial.
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No mais, os triglicérides têm potencial para bloquear dutos no pâncreas. Com isso, geram um quadro de pancreatite aguda, que causa dor intensa e exige hospitalização. Há risco de complicações severas. Como se não bastasse, existe um elo entre concentrações altas de triglicérides e a esteatose hepática, também chamada de gordura no fígado. Sem tratamento, o quadro leva inclusive ao câncer. Quais são os sintomas e como é feito o diagnóstico?Trata-se de um problema silencioso — muitas vezes, o primeiro sintoma é algum dos desfechos que mencionamos antes. Daí porque os profissionais de saúde recomendam fazer testes de tempos em tempos para verificar suas taxas. O diagnóstico é simples: basta um exame de sangue para detectar o problema. A partir daí, o médico aprofunda a investigação para ver o que está por trás da condição — e o que pode ser feito para contê-la. Qual é o tratamento?Regina lembra que mudanças de estilo de vida, sempre orientada por um expert, são especialmente importantes nesse contexto. Elas envolvem:
Em alguns casos, é necessário lançar mão de medicamentos. Suplementos de ômega-3 também são considerados, dependendo da dieta do paciente e de suas taxas. Como evitar o aumento dos triglicérides?Tirando os remédios, a prevenção é bem parecida com o que acabamos de abordar. Valorize uma dieta equilibrada e a prática de exercícios físicos frequentes. O controle na ingestão das bebidas alcoólicas também é fundamental. Cabe destacar ainda a necessidade de tratar enfermidades que fazem os triglicérides se acumularem na circulação, como é o caso do hipotireoidismo.
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Entramos em 2021 com a sensação de um desagradável déjà-vu. Mas um olhar atento revela que, embora o prognóstico não seja animador, com um ano pior do que o já difícil 2020, há aprendizados e certezas sobre a Covid-19 que não tínhamos antes. A grande questão é como utilizarmos isso a nosso favor. No ano passado, ainda havia muitas dúvidas no ar. Não sabíamos, por exemplo, quão rapidamente o coronavírus se espalharia, não conhecíamos sua letalidade e nem a melhor forma de tratar os infectados. Hoje já conhecemos a essencialidade da máscara, do distanciamento social e da vacinação em massa. Também descobrimos que não é o tratamento, mas a assistência precoce que verdadeiramente salva vidas. Em outras palavras, não é o uso indiscriminado de medicamentos sem eficácia comprovada que tem feito a diferença no desfecho de muitos casos, mas sim o acompanhamento médico de qualidade tão logo os primeiros sintomas apareçam. Os números refletem uma certeza: a maioria dos infectados se recupera bem e só apresenta sintomas leves. Mas as quase 3 milhões de mortes por Covid-19 no mundo também comprovam que a evolução da doença pode ser perigosamente rápida e inesperada. E não podemos jogar só sobre o paciente a responsabilidade de avaliar seu estado de saúde, sem o olhar de profissionais. É preciso ir ao encontro dessas pessoas quanto antes. E já existe tecnologia, expertise e aprendizados para viabilizar isso sem que elas sequer precisem sair de casa. Comprovamos isso na prática na SAS Brasil, ao garantir mais de 30 mil atendimentos que deram a milhares de indivíduos o acesso a um combo que tem se mostrado essencial: acompanhamento médico online, rápido e prático, aliado ao monitoramento diário em casa dos níveis de oxigênio no sangue. Com essa fórmula, desde o início dos nossos teleatendimentos, em março de 2020, não houve nenhum óbito relacionado a complicações da Covid-19.
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Por isso é importante dar um passo atrás, fazendo com que o atendimento médico presencial seja uma opção apenas quando há necessidade real, o que também ajuda a desafogar os hospitais lotados. E é possível fazer isso sem deixar desassistida grande parcela da população. No atual cenário de colapso, não há tempo a perder. É importantíssimo moldar novas políticas públicas a partir das melhores experiências já acumuladas. O terceiro setor foi fundamental neste primeiro ano de pandemia para pensar “fora da caixa” e comprovar medidas escaláveis e eficientes.
Após um ano de pandemia, o Ministério da Saúde anunciou a criação de um programa de telessaúde no enfrentamento à Covid-19. É um passo fundamental. No atual cenário, contudo, acende em nós um alerta de que não há por que reinventar a roda que já existe e que gira com extremo sucesso em projetos reconhecidos de instituições sem fins lucrativos, como SAS Brasil, Dados do Bem e Redes da Maré, em empreitada junto à Fiocruz, no Rio de Janeiro. Convidamos nossas lideranças a buscarem quem já está lidando muito bem com a telessaúde. Falem com quem atua com sistemas estruturados, que garantem a segurança de dados e oferecem soluções inovadoras. Esse é o caso, por exemplo, das cabines de teleatendimento da SAS Brasil, um projeto reconhecido pelo Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica 2020. As nossas cabines oferecem acesso à saúde especializada a pessoas sem internet ou sem celular com tecnologia para videochamadas. Não há tempo a perder no aprendizado daquilo que já se sabe e na reconstrução de soluções já disponíveis, prontas para ampliação. É hora de unir esforços e de fazer com que essas soluções cheguem rapidamente a milhões de brasileiros. *Adriana Mallet é médica, empreendedora social, palestrante e CEO da startup social SAS Brasil, que dá acesso gratuito à saúde especializada a pessoas vulneráveis no país desde 2013, de forma presencial e remota.
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A campanha de vacinação contra a Covid-19 naturalmente gera dúvidas na população. Recentemente, Veja Saúde recebeu muitas questões especificamente sobre a aplicação da vacina em pessoas que já pegaram o coronavírus. Afinal, é para tomar o imunizante? Caso eu pegue o Sars-CoV-2 entre a primeira e a segunda dose, o que fazer? Diante disso, produzimos um conteúdo especial com cinco perguntas e respostas sobre o assunto. Confira: 1. Devo tomar a vacina se já tive Covid-19?Sim. É verdade que, após a infecção de verdade, nosso corpo tende a gerar anticorpos e outros mecanismos de defesa. No entanto, nem sempre se cria a chamada “memória imunológica”, que é a capacidade de reconhecer uma segunda invasão e impedir seus estragos. Além disso, o surgimento das variantes parece aumentar o risco de reinfecção. Outro ponto: não sabemos por quanto tempo um organismo que já sofreu com a Covid-19 manteria as defesas naturais contra o vírus. Um dos estudos mais recentes, publicado no periódico científico Nature, indica que os anticorpos continuam circulando por pelo menos cerca de seis a oito meses. Os cientistas da Universidade Rockfeller, nos Estados Unidos, chegaram a essa conclusão após analisar amostras de sangue de 188 voluntários. Verdade que também não conhecemos o tempo exato que as vacinas conferem proteção — há pesquisas em andamento avaliando esse quesito. Ainda assim, a injeção serviria para renovar e fortalecer a proteção entre quem já pegou a doença antes. Todas as vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reduzem o risco de sofrer com a Covid-19, e não trazem efeitos colaterais adicionais entre indivíduos que manifestaram a enfermidade anteriormente. 2. Quem se curou da Covid-19 deve esperar quanto tempo para aplicar a vacina?A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) orienta esperar pelo menos quatro semanas após o início dos sintomas. Se o caso foi assintomático, o indivíduo deveria contar o mesmo período a partir do primeiro resultado positivo no exame de RT-PCR. Para aqueles que chegaram a ser internados, também se indica aguardar o completo restabelecimento antes de buscar as doses.
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Mas a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm, explica que esse tempo é uma medida de precaução, e não uma contraindicação. Não há dados indicando que, se um paciente infectado tomar a vacina antes desse prazo, ele corre qualquer risco. “A orientação serve porque a pessoa pode apresentar sintomas e complicações tardias do coronavírus em si. Se ele receber a vacina nesse meio tempo, é possível que os sinais da doença sejam confundidos com possíveis reações adversas do imunizante”, esclarece Isabella. 3. O que acontece se alguém infectado com coronavírus, mas sem sintomas, tomar a vacina?Pode ficar tranquilo. Não há evidências de que a saúde dessas pessoas esteja em risco caso recebam a picada, mesmo no período de incubação do vírus. Como dissemos, aquele tempo de espera para receber as injeções entre quem sabe que está com a enfermidade serve para evitar a confusão dos sintomas, não por uma questão de segurança.
4. Quem está com sintomas gripais pode aplicar a vacina do coronavírus?Outros quadros respiratórios possuem sinais similares aos da Covid-19. Entre eles, podemos falar de gripe, resfriado, bronquite e até condições que não afetam os pulmões, a exemplo da dengue. Mesmo que você não tenha sido diagnosticado com Sars-CoV-2, a recomendação também é aguardar quatro semanas do início dos sintomas e a recuperação total para aplicar a vacina. Aliás, isso vale para qualquer imunizante. 5. Como fica a situação de quem pegou coronavírus entre a primeira e a segunda dose?Sim, é possível desenvolver a Covid-19 no intervalo entre as duas picadas. Caso isso aconteça, você não vai precisar tomar a primeira dose de novo quando se recuperar. O recomendado é tentar seguir o calendário vacinal normalmente, mas respeitando aquela regra das quatro semanas de espera após o início dos sintomas. Não há problema se houver um pequeno atraso por causa disso: o importante é receber a segunda dose assim que estiver liberado.
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Home office da noite para o dia, diluição das fronteiras entre vida profissional e pessoal, uso constante do WhatsApp para falar com os colegas e a chefia, reuniões virtuais, metas a cumprir em meio a uma crise econômica… É de imaginar que a saúde mental do trabalhador brasileiro tenha sido balançada pela pandemia da Covid-19 e pelo tão citado “novo normal”. Nesse contexto, uma pesquisa recém-divulgada ajuda a mensurar o tamanho dos desafios e a urgência da pauta. Conduzido pela Kenoby, uma startup de seleção e recrutamento digital, o levantamento ouviu 488 profissionais de RH pelo país, a maioria atuando em empresas com até 500 funcionários. Os dados, colhidos entre fevereiro e março de 2021, refletem como as companhias estavam e estão se preparando para lidar com o bem-estar mental dos colaboradores durante e após a pandemia. Chama a atenção que 93% dos profissionais ouvidos acreditam que falta um olhar das empresas para o tema. E praticamente um terço relata que elas não levam essa questão em consideração ao avaliar as expectativas dos funcionários. “Sabemos que as pessoas estão adoecendo mentalmente e prova disso é o aumento na busca por apoio psicológico via telemedicina. Nosso objetivo foi mapear, na esfera do trabalho, as dores e desafios nas corporações e quanto elas estão preocupadas com a saúde mental dos colaboradores”, resume Felipe Sobral, diretor de marketing da Kenoby. “A pesquisa nos mostra que as empresas estão mais atentas a essa questão, porém temos um longo caminho a percorrer. E a pandemia acabou acendendo uma luz de alerta”, avalia. O estudo indica que 60% das companhias pretendem contratar uma pessoa ou criar um departamento para cuidar do bem-estar mental, só que mais da metade dos profissionais não sabe dizer quando isso vai acontecer. O achado ganha um verniz de preocupação se observarmos que 67% das empresas do levantamento tiveram colaboradores afastados por algum problema emocional. “A falta de previsibilidade quanto à estruturação de uma área voltada à saúde mental no curto prazo é o ponto que mais nos surpreendeu”, analisa Sobral.
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Na visão dos profissionais de RH ouvidos, a principal razão por trás de conflitos e danos mentais no ambiente corporativo é a falta de diálogo da liderança (19,1%), praticamente empatada com assédio moral e constrangimentos (18,9%) e falta de diálogo com o colaborador (18,7%). Então como se constrói uma solução para esse cenário? “O diálogo é o primeiro passo. A empresa precisa estar aberta a ouvir o colaborador, saber suas dificuldades, medos e aflições. Na régua de prioridades, o que vem primeiro: plano de metas ou programas de bem-estar?”, diz Sobral. O diretor da Kenoby nota avanços nesse sentido, com companhias oferendo academia, aulas de mindfulness, rodas de conversa, terapia, entre outras práticas. “Porém, para a mudança ser efetiva, tem de ocorrer primeiro no modelo e na cultura de trabalho. E isso depende também de um diagnóstico sincero, em que a empresa passa a entender o que é saúde mental para os funcionários, sua relação com os líderes, se eles têm condições de trabalhar em casa”, argumenta. Esse novo olhar, baseado em muita escuta, se estende aos novos modelos de trabalho impostos pela pandemia. “É importante que as empresas percebam que o formato home office não significa produzir menos. Pelo contrário, precisamos nos preocupar se esse modelo pode levar o colaborador a uma exaustão e ter reflexos negativos em sua saúde e produtividade”, avalia Sobral. O aumento na demanda por cuidados mentais é um assunto que deve ganhar maior prioridade na agenda das empresas. Pela pesquisa da Kenoby, 38,7% das corporações não dispõem de benefícios voltados a melhorar a saúde emocional e o bem-estar dos funcionários, mas estudam a possibilidade de adotá-los; 37,7% já incorporaram; e 23,6% ainda não têm nem os colocam como prioridade para este ano. “A segurança psicológica é um tema que vem sendo colocado na mesa, mas precisamos colocá-lo em prática”, defende Sobral.
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